Este blog escreve-se o intuito de contar verdades, mentiras e outras historias ainda desconhecidas do publico sobre erva mate, yerba mate e Meta Mate. Agradeço assim a todos aqueles que unem forças trabalhando no espírito de compartilhar conhecimentos, que assim como na roda de chimarrão se passem a frente as informações. Devido a distancia de mais de 20 anos da lingua portuguesa aviso aos amigos da gramática que este texto ainda esta em desenvolvimento e merece melhorias.
NÚMERO 23
Capítulo 1
Segunda, 22 de Fevereiro 2016, 8 horas, 23 minutos
Hoje de manhã não tinha mate.
Eu chego em casa vindo de um fim de semana no campo, de onde fui palestrar um uma livraria em Fuerstenwerder, perto de Berlin. Me deparei que nao tinha mate em casa, e desci para pedir ajuda a vizinha do primeiro andar. Sei que ela também toma mate.
Esta questão de pedir ajuda é um costume solidário, tanto no sul da América, quanto aqui no lado oriental de Berlin. Diferente do mundo ocidental, fortemente influenciado pelo capitalismo da américa do norte, onde pedir um favor é uma fraqueza, uma falha, uma degradação. Lá nos Estados Unidos proga-se o valor de se ter mais do que o vizinho. Ser alvo de inveja é algo muito desejável.
Lá, no sonho norte americano, pedir um favor é um sinal de fraqueza, é se colocar numa posição de perdedor. Lá a propaganda estimula a força individual, ser dependente é um sinal de fracasso. Necessitar de ajuda é expor-se a uma situação humilhante.
Bem diferente da cultura Gaúcha, que aprendeu dos indíginas o valor da compaixão e do compartilhar. Aqui em Berlin, influenciada pela experiencia socialista do leste europeu, pelo muro, pela grande flutuação de jovens e artistas e até hoje com a chegada de refugiados, se valoriza muito a solidaredade. É uma forma de ser que eu gosto muito.
Especialmente no sul da américa pedir um favor ao contrário de ser degradante, pode até nos colocar em situação de vantagem. Significa nos colocar a disposição para retribuir. É oferecer itnimidade, nos colocando a disposição a retribuir. E ao outro, a quem se pede ajuda, se da o poder de decidir se quer ou não oferecer a ajuda. Isto cria uma relação recíproca de compaixão, onde no pedir ajuda, se oferece reforçar os laços da amizade.
Para os gauchos pedir favor é uma demonstração de intimidade, de co-dependencia, como um prazer oferecer ao próximo uma oportunidade de nos deixar obrigados, o que tambem diferencia muito ja na lingua do Thanks ingles ou Danke Alemão. Estar obrigado significa uma vontade de retribuir a um presente ou serviço prestado.
Isto fica claro na roda de chimarrão, onde estender a mão com a cuia transcende o valor material da oferta, onde receber o mate significa confiar naquele que oferece, ou seja nesta comunhão o crédito e o débito é recíproco, ficando ambos tanto na mão de quem da, quanto na de quem recebe.
TODO MATERO É UMA LINDAURA, QUE DA E RECEBE AO MESMO TEMPO.
Esta entimidade nos damos e principalmente quando se trata de mate, algo que para quem gosta é um elemento basico da alimentação diaria. Portanto fui a vizinha pedir um pouco de mate. Eu normalmente so tomo erva brasileira, e apesar de eu ver ela sempre com aquele copo de terere, conheco erva paraguaia ou argentina em folhas, e sei que pode ate ser bom em momentos de falta de erva fresca. Me salvaram muitas vezes pelas viajens na Asia estas yerbas argentinas. São um pouco mais fortes e me lembrão de algo do passado, onde nao havia açucares nos mates que nos oferecem la pelos pampas. Lembra de um tempo onde nao nos preocupavamos nem com nossa saude, afinal morrer vamos todos, e nem com a pegada ecologica, afinal quem poderia distruir com a natureza?
A vizinha me pergunta como pode que fiquei sem erva, se estou mal de grana, e faz um pouco de piada sobre um gaucho sem erva. Eu aguento queto e digo que tambem nao entendo, que deveria ter pelo menos um 1 kg na geladeira e agora esta vazio o meu freezer. Mas ela foi gentil e me entregou um pacotoe fechado dizendo: “ Aqui esta, leva este pacote de ½ kg. Quando fui comprar estave em promocao por 5 Euros, o que para erva organica estava tao barata que comprei dois. E olha erva verde assim ainda nao tinha visto, aproveite!”
Peguei o pacote e me despedi, mas quando vi que era uma embalagem de luxo, empacotada a vacum e com marca da meta mate, nao entendi. Esta Meta mate e uma marca aqui de Berlin, que e carissima, eles dizem que de producao artesanal, e por isto tem que ser bem mais cara por ser mais ecologica, produzida em pequenas quantidades, apoiando pequenos produdores, com a menor pegada ecológica possível, etc…. o que da para entender e é louvavel, mas nao entendi como poderia ser meta mate por 5 Euros por meio kg. Percebo uma aplicacao de vinil tridimensional na embalagem, algo muito high tech que nao combina nada com os produtos feitos a mao por familias autonomas como a meta mate anuncia. Lembro de ver pacotes de papel embalados a mao e sem etiquta anunciados por esta Meta Mate. E o nome 23, isto sim me intrigou , o que e isto, onde vi este numero? Nao era parte de uma piada geek do filme Pegando carona pelas galaxias? Nao era alguma outra coisa. Dai lembrei, teve o lancamento de um licor chamado KR23 este fim de semana no Getrankefeinkosten em Berlin. Fui convidado, e depois de ler a respeito, que tinha 23 ervas usadas nele, ate quis ir, mas decidi dar prioridade a ir conhecer esta livraria e tambem visitar o projecto casa que abitam os proprietarios. Eles sao conectados com Kesselberg, uma floresta ocupada a 30 kms de Berlin, e tambem ‘e um empreendimento subversivo, que alavanca a compra de predios oucpados. Algo que ja comessou logo apos a queda do muro e ficou frequente nos anos 90. Este movimento de ocupar em Berlin nao tem nada a ver diretamente com o ocupy wallstreet de 2011, e ainda existe de certa forma, o que me leva a querer escrever a respeito. Pode ser uma forma alternativa de vida dentro do sistema capitalista que possa vir a influenciar o futuro.
Quando voltei para casa e pus aquele pacote com um circulo e o número 23 no mesa da cozinha, levei um susto. Fui uma ideia. Veio como um clafrio. Aquele numero 23 em verde neon, como numa tela de computador antigo, este 23 ressou com algo dentro de mim, e como algo mais, e como uma cadeia de dominos senti em uma fração de segundos medo, excitação, dúvida, entusiasmo, euforia, preocupação, quaso tudo isto nesta ordem e no final ficou tudo misturado.
O número 23, não era ele que estava escrito dentro de uma pirâmide num livro com capa de madeira que vi este fim de semana na livraria antiquario onde palestrei? Vi tantos livros exclusivos lá, com mais de 100 anos, mas aquele foi o que mais me chamou a atenção pela capa. Parecia uma placa de xilografia, como que pronta para ser usada para imprimir panfletos. O texto em latim e a fonte davam a idéia de ser algo consipirativo. Ao olhar bem achei parecido com estas pirâmides massons, ou egípcias com um olho no meio, espadas cruzadas e ramos com folhas em baixo, mas no meio do olho o número 23. Quando vi os ramos lembrei até do Brasão do Rio Grande do Sul com os ramos de erva mate.
Que coincidencia pensei logo, mas lembrei do filme 23 com Jimmy Carrey, e, depois lembrei do filme sobre o hacker alemão Karl Koch de Hamburgo, que era espião durante a guerra fria e sofreu uma doentia obsessão pelo número 23. Ambos os filmes com nome o número 23.
E a Revolução de 23, onde ervateiros e caboclos foram liderados pelo Leonel Rocha em Palmeira das Missões, representando a força do Mato e se juntando a Assis Brasil em Pedras Altas, e meu conterranio do Alegrete, Honório Lemes, todos maragatos lutando por eleições justas e contra os despotismos ximangos.
E a ervateira Barão do Cotegipe, que dentro do seu pacote mais luxuoso, da erva Premium, tem um cartãozinho com o Salmo 23: “ O senhor é meu pastor, nada me faltará!”
E já confuso entre medo e exitação, lembrei que no Meta Mate Bar tem um adesivo de Hack café na maçaneta. Não seria que o Partido Pirata em 2011 se encontrava para discutir os direitos dos eleitores, consumidores e animais?
Não pode ter uma conexão? Esta erva meta mate, a livraria, os hackers, os projetos subversivos, o número 23, a minha vizinha, estão todos conectados? Esta vizinha mora aqui ja faz tempo. Não sei mais se ela ou eu chegamos primeiro, mas com a mobilidade de city-hoppers de Berlin a gente traca de vizinhos mais rápido doque se compra um calçado novo.
Esta vizinha, será que ela também faz parte de uma conspiração com este número 23? Ela é bem discreta e já a vi trabalhando como voluntária na “Loja de Emprestar”, um projeto anárquico contra o capitalismo que visa evitar a compra de produtos que se possa compartilhar. Algo tipo escada, furadeira e jogos, coisas que não se usa todo dia e por isto ao invez de se comprar se compartilha com os vizinho. Afora isto não sei nada sobre ela. Mas que ela tambem compra na Meta Mate? Esta loja e tambem o KR23 também são bem suspeitos.
Será que estou imaginando coisas? Será que toda vez que alguém usa o número 23 num filme ou livro estará querendo passar uma mensagem? Será um círculo hermenêutico dupla, como diria Heiddeger? Ou será algo pré destinado e divino?
Bem, penso eu, que bobagem, que imaginação fértil, e todas estas idéias e eu ainda nem tomei meu mate.
Peguei minha cuia de cerâmica e minha bomba de prata para cevar o mate. Sempre faço isto para testa um mate que não conheço, pois usar porongo ou bombas de metais menos nobres deixam um gosto, e prefiro usar avios o mais neutros possíveis para sorver uma erva nova.
Quando abrio o pacote tenho mais uma surpresa. As folhas são verde. Pensei com alegria: O que é isto que estão vendendo agora?
Meta Mate e a Barão são os únicos mate em pó, tipo Caá1-mini2 que consigo aqui em Berlin. Prefiro usar ervas em pó, tanto no mate como quando faço chás como mate cozido. Da mesma forma que na cultura japonesa, onde o Matcha em pó é mais superior que o Gyiokuro em folhas, a infusão é da resultados bem difrentes. Quanto menor a granulação da erva, masi superfície de contato com a água. Isto altera o sabor, normalmente suavizando, mas também evita que a erva lave logo ou inche como o que acontece com as folhas.
Ponho um pouco desta erva na mão e vejo que ela tem um corte semelhante às yerba mates dos argentinos e paraguaios, e sem a ausencia de pó como se ve nas uruguaias. Estas ervas vendidas para o Uruguai tem um pouco de pó como as Brasileiras, mas é resultante da mistura de ervas estacionadas em folha, com ervas de retorno. É uma prática utilizar as ervas que não foram vendidas nos super mercados brasileiros, são então reaproveitadas para a exportação.
E quanto a cor, nunca vi uma folha assim, nem nas ervas frescas para tererê que vem do Paraguai ou do estado do Mato Grosso, no noroeste Gaúcho.
Mas esta Meta Mate 23 é ainda mais brilhante, quase como o verde neon da embalagem. Me pergunto como é que conseguem isto.
Com certeza a preservação deve ser devido a embalagem a vácuum que ajuda a preservar, mas deve também ter alguma técnologia especial. Uma secagem a baixa temperatura. As plantas também devem ser diferentes, provavelmente das matas do Paraná onde tem florestas nativas sombreadas.
Assim como o Matcha Japonês tem sua cor e sabor diferenciados, por ser feito de gyokuro, chá verde plantado em baixo de um telhado de palho, lembro que a Meta Mate anuncia não usar yerba mate plantadas em monocultura debaixo do sol. Nas florestas nativas da planta Caa , as quais 80%
se encontram hoje em território brasileiro, as erveiras estão na sombra protejidas do sol por árvores maiores como as magníficas araucárias. Isto justifica um sabor mais suave que as yerbas de monocultura, e tambem este verde mais brilhante. Este verde só erva visto no passado em ervas da Barão do Cotegipe. Ouvi dizer que o fundador, Etelvino Picolo, foi quem desenvolveu o precesso de secagerm para se obter uma cor verde assim. Eles foram também os primeiros a embalar a vácuum a erva mate. Se coubesse a mim, gostaria de dar ao Sérgio Picolo, filho do fundador realmente o título de Barão da Erva Mate, não, de Príncipe da Erva Mate. O Sérgio assim como seu pai mantém a tradição de ter uma empresa com as portas abertas, muito antes do open-source , creative communs ou do sistema operacional da PremiumCola.de a família Picolo e a empresa Barão cultivam uma filosofia de investir em inovação e oferecer o conhecimento a entusiastas da erva mate a criar e expandir seus negocios. Relatos assim ouvi diretamente de vários pequenos e grandes produtores.
Uma cor verde como esta hoje já comum de se encontrar em ervas de alta qualidade como a da Rei Verde, que também é embalada a vácuum, mas com esta cor num corte argentino nunca vi. Olha que desde os meus tempos de casas ocupadas em Prenzaluer Berg Berlin, ou em minhas viajens pelo o sul das Américas eu sempre tomei muito mate, mas nunca havia visto uma erva assim.
Bem, encilhei o mate, como de china pobre, com pouca erva, pois sabia que ia inchar. Também me preparei para um gosto amorgo e eventual corrida ao banheiro (comum depois de uma erva argentina de qualidade). Faço um palheiro, ponho a água a esquentar, e reparo que ao lado do 23, no círculo menor, esta escrito Tererê. Isto não tinha notato, pois tererê se toma frio, e com suco de frutas. E eu gosto é de chimarrão bem quente e sem adoçante, no máximo um jujo quando é para animar a conversa. Fiquei um pouco incomodado e curioso para saber se esta erva presta pra matear, mas dai me encomodei mesmo quando vejo o acento na última letra do tererê, ao invés de ter um acento circunflexo ^ esta escrito com uma pirâmide “ ▴”.
A ser continuado e traduzido em licensa CC SA….
1 Em guarani Caá segnifica a planta, ou erva, designando o alimento que em kaygang se diz Congonha, em português denominamos erva-mate e no espanhol yerba-mate. O nome científico mais usado é o Illex Paraguaiensis, porém tendo outros como Illex Munter.
2 Segundo a História da Erva-Mate, de Barbosa Lessa, os Jesuítas conseguiram desenvolver um processo de micropulverização das folhas, de que resutlaram dois tipos de mate no mercado: a “caá-mini – essa erva em pó – e a “erva de paus” , convecional. Apesar de custar muito mais no mercado, a novidade missionista abalou a concorrência.